Graciliano Ramos e a Segunda Geração do Modernismo

Já em seu romance de estréia, Caetés, de 1933, percebem-se as duas diretrizes principais da obra de Ramos: a preocupação social e a angústia existencial. Com São Bernardo, não é diferente. Nesta obra, há um aprofundamento dessas duas vertentes. O trabalho artístico, entretanto, alcança aqui um nível mais elaborado, o que levou vários críticos a classificarem o romance em questão como uma obra à parte na literatura, na medida em que neste livro encontra-se um grau de estranheza que o torna quase ímpar na literatura brasileira.

 

A Primeira Geração do Modernismo Brasileiro [1922-1930] renovou os mecanismos de expressão de nossa literatura. Graciliano Ramos, que começa a publicar na década de 1930 – estando, portanto, ligado ao segundo momento do modernismo –, não comunga de tal “renovação”.

 

Pode-se dizer que sua narrativa é bastante tradicional, na medida em que nela não se notam rupturas verbais, tampouco malabarismos lingüísticos. Sua obra se preocupa mais com a denúncia de situações de opressão vivenciadas pelo homem nordestino.

 

O romance praticado pelos escritores da Segunda Geração do Modernismo Brasileiro apresenta duas grandes vertentes – uma social e outra psicológica. Tradicionalmente, os manuais de literatura classificam a obra de Graciliano como “social” [ou regional, ou nordestina]. São Bernardo apresenta todos os elementos do dito romance regional [social], mas também desenvolve magistralmente o que se convencionou chamar de “tensão interiorizada” [ou romance psicológico].

 

Outra classificação utilizada para a obra de Graciliano é a de “neo-realista”. Esse termo pode ser utilizado sem prejuízo algum porque ela retoma procedimentos bastante utilizados pelo realismo-naturalismo, tais como a denúncia social, a análise psicológica e uma forte tendência à objetividade.